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PELO OLHO DO PATOLOGISTA - "MAQUINOGRAMA"

Por Janaína Dal Bosco


O hemograma é o exame que avalia de forma quantitativa e qualitativa os elementos celulares do sangue. É a ferramenta diagnóstica mais utilizada na rotina laboratorial como fundamento clínico pelos profissionais da medicina veterinária, devido a sua praticidade, economia e utilidade.


Este exame torna-se imprescindível na investigação, identificação e acompanhamento evolutivo de diversas doenças inflamatórias, infecciosas, parasitárias, metabólicas, neoplásicas, crônicas, distúrbios hematopoiéticos, situações médicas e/ou cirúrgicas emergenciais ou simplesmente para acompanhamento de animais clinicamente saudáveis (CARMO et al., 2020; GONZÁLEZ & SILVA, 2008; SAMPAIO, 2017).


Este exame é subdividido em três partes principais, o eritrograma, o leucograma e o plaquetograma, e estes podem ser avaliados com a utilização de técnica manuais e automatizadas ou a junção de ambas.

Mas qual delas é a melhor? A automação substitui 100% as técnicas manuais?


De fato, a principal e mais marcante diferença entre as duas metodologias para a realização do hemograma é o tempo. A técnica manual demanda muito mais tempo, além disso a grande dificuldade do exame direto consiste na concentração e precisão visual do patologista clínico. Ainda, a subjetividade da análise do patologista requer extensa experiência e entendimento da área evitando dessa forma colocar em risco a vida de pacientes por diagnósticos errôneos ou equivocados (LAMPRECHT et al., 2007).


Em oposição, as tecnologias utilizadas em contadores automáticos têm demonstrado avanços nos resultados dos exames pela precisão, sensibilidade e rapidez. Além disso, possibilitam a junção de várias técnicas diferentes que fornecem parâmetros importante na avaliação da amostra e consequentemente na condição clínica do paciente, sendo que tais dados não podem ser fornecidos pela metodologia manual, como por exemplo o RDW (amplitude de anisocitose).


Considerando a contagem celular, tanto de hemácias como de leucócitos, o método automatizado obtém vantagens. Contudo, essa informação tem divergência quando considerada uma célula específica, o metarrubrícito. O metarrubrícito é a última forma nucleada da hemácia e pode ser liberado na circulação em casos de anemias regenerativas juntamente com reticulócitos e hemácias jovens. Pela morfologia e características celulares essas células são facilmente reconhecidas pelo equipamento como “pequenos linfócitos”, podendo caracterizar uma pseudo leucocitose por linfocitose, especialmente em gatos.


um linfocito canino
Linfócito típico
Eritroblastos, metarrubricios e estágios de maturação das hemacias
Maturação dos eritrócitos








Fonte: Hematologia e Bioquímica Veterinária. Thrall et al. 2015.



Assim como, a automação utilizada na rotina laboratorial não identifica características morfológicas precisas como presença de inclusões sejam elas fisiológicas como o corpúsculo de Howell-Jolly indicativo de hemácias jovens, ou até mesmo patológicos como inclusões virais ou agentes parasitários (LEMES, 2016; STAEHLER, 2021). Conforme Harvey (2012), independente do equipamento utilizado para avalição da amostra a observação do esfregaço sanguíneo é de suma importância, corroborando com as opiniões de Almeida et al. (2012) sobre a leitura de esfregaço sanguíneo para identificação de alterações na morfologia eritróide que fornecem informações que podem direcionar as investigações e o diagnóstico clínico, como por exemplo a presença de esferócitos e corpúsculos de Heinz.

Seta indicando um corpúsculo de Howell-Jolly (resquícios nucleares).  Fonte: Hematologia e Bioquímica Veterinária. Thrall et al. 2015.


Seta indicando um corpúsculo de Howell-Jolly (resquícios nucleares).

Fonte: Hematologia e Bioquímica Veterinária. Thrall et al. 2015.

Cabeça das setas indicando esferócitos, morfologia celular característica de anemias hemolíticas. Fonte: Hematologia e Bioquímica Veterinária. Thrall et al. 2015.





Cabeça das setas indicando esferócitos, morfologia celular característica de anemias hemolíticas.

Fonte: Hematologia e Bioquímica Veterinária. Thrall et al. 2015.









Da mesma maneira, na averiguação das células mononucleares pode haver equívocos quanto a distinção entre linfócitos reativos e monócitos pelo tamanho celular causando uma pseudo monocitose, o que foi identificado no trabalho de Giordano et al. (2008) com análise de sangue de equinos. Aliás, alguns aspectos da citomorfologia leucocitária não são descritos como a reatividade, atipia, imaturidade celular, granulações, presença de corpúsculos e inclusões (ARRUDA et al., 2019).

  Linfócito reativo
Linfócito reativo
Monócitos típico
Monócitos típico















Ainda, Sampaio (2017) exemplifica a dificuldade tecnológica em diferenciação e, portanto, classificação errônea de macroplaquetas em hemácias pequenas, especialmente em amostras de felinos. O autor relata que em casos de trombocitopenia é imprescindível a avaliação do esfregaço sanguíneo para tentar identificar a causa da alteração. Existem muitas causas de trombocitopenias e pseudotrombocitopenias, uma delas é a formação de agregados plaquetários que podem ser formados desde escolha do local de coleta, tempo entre coleta e análise, coleta dificultosa, homogeneização inadequada (SCHWEIRGERT et al., 2010; HLAVAC, 2012) ou até mesmo concentrações inadequadas de anticoagulantes como o EDTA, que provoca aglutinação plaquetária pela indução de auto-anticorpos que reconhecem glicoproteínas na superfície da plaqueta (DUSSE et al., 2004; BARBOSA & BOECHAT, 2017). A visualização direta faz com que a identificação do agregado seja simplificada e descrita no laudo, podendo sugerir dessa maneira a possível causa da diminuição na contagem.



Macroplaqueta ao lado do linfócito.
Macroplaqueta ao lado do linfócito.

Apesar da ampla tecnificação do diagnóstico laboratorial, algumas etapas da análise do hemograma tornam-se mais fidedignas quando efetuadas pelo método manual, devido a subjetividade e compreensão de diversos âmbitos da medicina veterinária que o profissional da área de Patologia Clínica capacitado possui, além de ser a metodologia de escolha quando se trabalha com animais silvestres e selvagens, uma vez que suas peculiaridades na morfologia das células sanguíneas dificulta a leitura por meio automático (MAURICIO, 2017).


Mas final, qual técnica é a melhor?

A melhor técnica ou metodologia é aquela que oferece um exame fidedigno ao quadro do paciente, com altos critérios de qualidade e confiança. Assim como muitos autores abordam na literatura, acreditamos que a automação veio para acelerar e tornar muitos processos mais precisos, mas jamais substituirá a avaliação em lâmina de um bom analista clínico, o que nós do LAB CENTER VET priorizamos para cada paciente que passa por nosso laboratório.

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